Hollywood está voltando para a linha de montagem
O ano é 2023 e você quer assistir a um filme específico. Você verifica todos os serviços de streaming que possui, um número que tem crescido constantemente ao longo dos anos. Você se lembra de ter visto isso no HBO Max – desculpe, Max – mas não está mais lá. Depois de percorrer quilômetros de títulos no Netflix, você também não consegue encontrá-los, embora descubra que agora existe uma Extração 2. Sem sorte no Prime Video, nada no Peacock, e você nem se preocupa em verificar o Disney +. Mas cada pesquisa produz mais pôsteres, títulos e filmes que você sabe que nunca terá tempo de ver. Sequências, remakes e gêneros baratos foram brevemente grampeados na tela inicial. Alguns desses títulos podem desaparecer amanhã. Esse pensamento arrepiante vem à sua mente: “Nem sempre foi assim”.
Você tem razão. Mas você também está errado. O cenário cinematográfico em que estamos presos agora está repleto de velhos truques enfeitados com novas tecnologias. Antes de haver streaming, antes mesmo de haver som nos filmes, já passamos por tudo isso antes.
Os primeiros filmes mudos eram uma terra selvagem. O novo meio oscilava entre ser a próxima nova forma de arte ou uma novidade tecnológica temporária. Os filmes eram feitos em massa e enviados aos cinemas com frequência. A ideia predominante era que, uma vez que você assistisse a um filme, provavelmente não iria querer vê-lo novamente. A ênfase estava na quantidade de uma variedade de fontes. Quem conseguisse fazer e distribuir mais filmes controlava a indústria.
Em 1908, a indústria cinematográfica era controlada por um poderoso cartel chamado The Trust, liderado por Thomas Edison. O Trust era composto por 10 dos maiores produtores, fabricantes e detentores de patentes de filmes que decidiam o que poderia ou não ser visto. Eles controlavam tudo, desde o custo do filme até os filmes que os proprietários dos cinemas podiam exibir. A indústria cinematográfica tinha acabado de começar e Edison e seus amigos famintos por patentes já detinham o monopólio de uma nova forma de arte.
A primeira grande batalha corporativa na indústria cinematográfica começou quando um grupo apelidado de “The Independents”, liderado por Carl Laemmle, decidiu enfrentar o The Trust para garantir que o filme tivesse futuro. Ele tinha um aliado em William Fox, uma década antes de fundar a Fox Film Corporation (mais tarde chamada de 20th Century Fox). O outro aliado importante dos Independentes foi o fundador da Paramount, WW Hodkinson, que distribuiu seus filmes. Laemmle fundou uma produtora que mais tarde se tornaria a Universal Pictures e começou a construir um ecossistema cinematográfico fora dos limites do The Trust. Nos anos seguintes, Laemmle seria processado 289 vezes pelo The Trust. Ele ganhou todos os naipes. Laemmle liderou os Independents para fora de Nova York e se refugiou em Los Angeles, construindo uma nova base para seu próprio futuro cinematográfico. Eles sabiam quais filmes as pessoas queriam, inovaram mais rápido do que Edison e, em 1915, os Independentes detinham mais controle do que o The Trust.
Entra Adolph Zukor, um dos primeiros produtores de cinema pronto para saltar para a nova fronteira do cinema. Em parceria com Hodkinson, Zukor combinou sua produtora, The Famous Players Film Company, com o sistema de distribuição Paramount. Zukor inspirou-se no modelo de eficiência de Henry Ford e no design de suas linhas de montagem. Zukor queria que a indústria cinematográfica funcionasse da mesma maneira. Em seu livro A Million and One Nights, o historiador Terry Ramsaye descreve Zukor como “a figura mais significativa no campo da produção cinematográfica. Ele foi interiormente movido pela ambição napoleônica.” O tempo logo mostraria que o problema de Zukor com o The Trust era que ele não era quem estava no controle.
O projeto de Zukor para a Paramount era construir o primeiro estúdio de cinema da maneira como os vemos hoje: uma empresa fazia os filmes e os enviava aos cinemas. Zukor inovou ainda mais ao acreditar que um estúdio também deveria ser dono de todas as redes de teatro. Ele comprou companhias de teatro menores e logo teve uma linha de teatros Paramount nos Estados Unidos. Fox e Laemmle logo seguiram o exemplo, reestruturando suas companhias para modelar a Paramount. Eles queriam ser independentes do controle de Edison, mas de bom grado saltaram para se tornarem os novos barões dos negócios do cinema.